Mordida Cruzada

Definição

São anomalias oclusais que se caracterizam pela inversão da oclusão dos dentes posteriores, no sentido ântero-posterior, e transversal. 

É frequentemente observada na prática ortodôntica nas diferentes etapas de desenvolvimento da dentição (decídua (dentes de leite), mista e permanente), com frequência de 8 a 16% da população. Esta constância uniforme de mordida cruzada posterior indica que, normalmente, este problema se desenvolve precocemente e, raramente, corrige-se espontaneamente. 

Etimologia

Na dentadura decídua as mordidas cruzadas se iniciam, geralmente por ocasião da irrupção dos caninos decíduos (19 meses), que mostram uma relação de topo a topo, e a mandíbula tenderá a sofrer desvios para a esquerda, direita ou anteriormente, cruzando a mordida (adaptação funcional). E não se auto-corrige. 

Outros fatores associados ao desenvolvimento das mordidas cruzadas: 

  • respiração bucal 
  • hábitos de sucção de dedo e/ou chupeta 
  • pressionamento lingual atípico 
  • força postural produzida na área dentofacial 
  • perda precoce ou retenção prolongada dos decíduos 
  • deficiência lateral da maxila determinada geneticamente 
  • más-formações congênitas de lábio e palato

Quando tratar?

Assim que detectada. De preferência já na dentição decídua. 

O tratamento interceptador permite o restabelecimento do equilíbrio funcional e possibilita um crescimento e desenvolvimento normal da criança.

Classificação (Müller de Araujo -1986)

Mordidas cruzadas anteriores (nos incisivos) 

  • simples 
  • complexas 

Mordidas cruzadas posteriores (nos molares) 

  • dentárias 
  • com contração dento-alveolares 
  • funcionais ou neuro-musculares 
  • esqueléticas 
  • unilaterais ou bilaterais 

Mordidas cruzadas anteriores 

As mordidas cruzadas anteriores podem ser classificadas em: 

Simples

Envolvem apenas os dentes anteriores. Podem ser corrigidas facilmente com aparelhos móveis corrigindo a inclinação dos dentes.

Complexas 

Envolvem os ossos, podendo resultar de um crescimento inadequado da maxila, da mandíbula ou de ambos os maxilares. Normalmente o tratamento será mais complicado podendo envolver a utilização de máscara facial ou mentoneira em pacientes jovens. Ou então a cirurgia ortognática em pacientes adultos. 

Diagnóstico diferencial das mordidas cruzadas posteriores 

 

Devemos localizar a má formação. Está limitada à maxila? À mandíbula?  

Envolve só o processo alveolar ou é uma discrepância severa que habita uma das arcadas? 

É má posição dentária unilateral ou contração bilateral de todo o arco dentário? 

Tipos de mordida cruzada posterior

 

Dentária unilateral  

Geralmente é de primeiro molar superior permanente, com ou sem desvio da linha mediana. 

Tratamento  

Se o molar superior estiver inclinado para lingual e o molar inferior estiver para vestibular, então os dois devem ser movimentados. 

  • elásticos intermaxilares cruzados. 
  • placa acrílica com uma mola (se não houver inclinação recíproca) 

Dentoalveolar unilateral  

A linha média dos incisivos está coincidindo. Indica a ocorrência de uma contração dento-alveolar na região posterior. 

Tratamento  

  • aparelho removível com torno assimétrico.
  • quadrihélice com ativação no lado da contração. 

 

Funcionais ou neuro-musculares 

Quando por mecanismos funcionais, através de contatos prematuros, a mandíbula pode desviar lateralmente, ocorrendo a mordida cruzada por acomodação. 

Para o diagnóstico, deve ser observada a linha média. 

Tem-se uma atresia simétrica do arco dentário superior, o que leva a uma posição instável em relação cêntrica, forçando a mandíbula a deslocar-se em busca de uma intercuspidação estável. 

 

Muscular X Dentária 

São bastante similares exceto que nas musculares, os ajustes musculares são mais significantes que a má posição dentária. 

Na dentária os dentes deverão ser movimentados, e na muscular ajustes oclusais devem ser obtidos, permitindo uma mudança no reflexo de posicionamento mandibular. 

Tratamento  

  • desgaste dos caninos decíduos 

  • expansão bilateral com placa removível ou quadri-hélice 

 

Esqueléticas

As bilaterais são caracterizadas por uma atresia total da arcada superior, causando como consequência, uma discrepância ósseo-dentária. São mais raras e podem ser causadas por traumas ou fatores genéticos. 

Displasia Óssea ou Esquelética 

As alterações no crescimento ósseo e/ou na sua morfologia podem produzir mordidas cruzadas de duas maneiras: 

  • crescimento assimétrico da maxila ou mandíbula 
  •  deficiência de harmonia nas larguras básicas da maxila e da mandíbula 

 

Pode ser o resultado de: 

  •  padrões de crescimento herdado 
  •  trauma que impede o crescimento normal 
  •  deslocamento mandibular funcional por um longo período 

 

Diagnóstico 

O estudo cefalométrico frontal da face permite uma definição mais adequada do problema. Nesta telerradiografia frontal é possível medir a largura da maxila e definir baseado em normas pré-estabelecidas se ela está menor.  

Tratamento 

O aparelho de escolha da mordida cruzada posterior esquelética é o disjuntor palatino, que faz uma expansão rápida da maxila. 

O quadrihélice poderá ser utilizado em casos mais brandos, mas será difícil prevenir uma excessiva inclinação dentária nos casos mais severos.

Expansão Rápida da Maxila 

Neste procedimento, a sutura palatina mediana é separada, o que permite um aumento na largura da maxila. 

Indicações: 

  • fissura palatina 
  • estenose nasal 
  • anomalias de Classe I, II, III com deficiência maxilar 

Contra-indicações 

  • Mordida cruzada posterior de origem dentária 
  • adultos acima de 25 anos, porque oferecem muita resistência na separação da sutura. A expansão neste caso deverá ser assistida cirurgicamente. 

Tipos de disjuntores

 

 

Haas: O parafuso é soldado em bandas, e possui resina acrílica nas paredes laterais do palato. 

Hyrax: O aparelho não possui resina acrílica, somente uma estrutura metálica. 

Disjuntor de McNamara: É igual ao Hyrax só que com recobrimento oclusal de acrílico nos dentes posteriores. 

Expansão Rápida da Maxila Assistida cirurgicamente 

A ERM tem insucessos frequentes em adultos. Nestes casos pode ser necessário a combinação de osteotomias e corticotomias lateral (entre a abertura piriforme e a fissura pterigomaxilar) e palatina. 

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